De tempos em tempos gosto de trazer aqui para o blog assuntos diferentes que moda, celebridades e seriados, afinal apesar da minha vida ser repleta desses temas, eu curto outras coisas além.
Para quem não sabe eu sou formada em Psicologia, isso já faz um tempinho, foi em 2006. Eu jurava que ia seguir nesse caminho e iria fazer uma formação em Psicanálise e virar analista. Bem, cheguei a fazer estágio supervisionado em Psicanálise Infantil, mas na época já cursava Publicidade e meu caminho foi desviando cada vez mais da prático do titio Freud. Isso tudo para dizer o porquê da escolha para essa entrevista. Quando li as tirinhas “As TRAUMÁTICAS Aventuras do Filho do Freud” logo virei fã. O mais legal é que eu já conhecia o autor, o Pacha. Sempre elogiei o trabalho dele e resolvi fazer umas pergutinhas para apresentá-lo a vocês.
1) Primeiro de tudo, quem é você? Apresente-se aos leitores do blog!
Me chamo Pacha Urbano, sou ilustrador e roteirista, e vez ou outra me aventuro em terras desconhecidas. Já trabalhei pra revistas, editoras, estúdio de animação, produtoras, estamparias e até em barraca de cachorro-quente.
2) De onde veio a ideia para criar as tirinhas do filho do Freud?
Estava numa aula de Psicanálise e Educação, na faculdade de Pedagogia que curso, e a professora tinha passado aquela cinebiografia famosa do Freud, “Freud Além da Alma”, e enquanto rolavam as discussões eu estava rabiscando no meu caderno de desenhos e pensei: “Como deve ter sido difícil ser filho do Freud…”, aí bateu aquele estalo e fiz a tirinha na hora, sacaneando o primogênito do velho Freud. Imagina ter que disputar a atenção de um pai como ele, tão empenhado em seu trabalho e pacientes, com o ego do tamanho de uma montanha, cheio de encrentas com a sociedade médica e científica da Europa… Batizei a tirinha de “As Fantásticas Aventuras do Filho do Freud”, no que corrigi depois, riscando por cima e escrevendo “TRAUMÁTICAS”, o que acabou sendo uma piada também. Até então não pensava numa série de tirinhas. Isso aconteceu em janeiro desse ano. Tirei uma foto da página do caderno e publiquei a tirinha no meu mural do Facebook, para mostrar a meus amigos, como vira e mexe eu faço. Quando foi em março alguém me manda um link de um blog com a tirinha publicada, sem créditos pra mim, com a imagem alterada no Photoshop e tal, só com o traço, sem as sujeiras da foto. Enquanto isso os amigos pediam mais tirinhas, mas eu não tava nem aí, só que depois de vê-la espalhada por outras pessoas que não conhecia fiquei preocupado, e decidi fazer mais tirinhas. Quando tinha uma quantidade razoável criada fiz um Tumblr e as publiquei lá, em 31 de maio desse ano, ato contínuo criei uma fanpage no Facebook e a coisa toda foi acontecendo.
3) Qual sua ligação com a Psicanálise?
Essa é uma história longa. Tentando resumir, a coisa comeτou quando eu fazia uma pesquisa sobre vestuário do século XIX para uma história em quadrinhos passada nessa época (que acabou nem rolando), e acabei me esbarrando com dois temas que gosto muito: loucura e teratologia. Na sequência encontrei coisas sobre aberrações de circo, estudos psiquiátricos e criminais do italiano Cesare Lombroso, mesmerismo, e então hipnose, Psicologia do século XIX, Charcot, Breuer e as histéricas, e aí fatalmente dei de cara com Freud e a criação da Psicanálise. Fiquei muito impressionado a descoberta do Inconsciente e o impacto disso no pensamento ocidental. Li alguns dos principais livros dele, depois do Jung, Lacan, Reich, fui me interessando pelo tema, mas tudo na curiosidade. Anos mais tarde vim a fazer terapia com uma profissional incrível – com quem continuo fazendo análise – o que contribuiu muito para sedimentar todo este tempo de pesquisa. Costumo dizer que psicoterapia devia vir no pacote assistencial do Governo.
4) Sei que você já recebeu elogios e críticas pelas tirinhas. Qual a crítica mais sem pé nem cabeça que chegou até você?
Olha, já fui chamado de machista babaca, o que achei até divertido, mas a que mais me impressionou foi um email enorme que uma leitora escreveu me aconselhando a procurar um profissional porque eu representava ameaça pra classe (dos psicanalistas e psicólogos, suponho), já que cometia erros terríveis apresentando os conceitos freudianos daquela forma irônica e irresponsável. Mencionou também a forma rude com que o “meu” Freud tratava o filho, e que crianças não deveriam ser tratadas daquela forma, coisa e tal. O que me deixou mais desconcertado foi que ela levou a sério demais uma tirinha de humor negro, e tomou aquilo como uma coisa muito ruim e venenosa. Respondi dizendo que o próprio Freud era um gozador, que tirava sarro dos medos e problemáticas da civilização ocidental (e dos próprios pacientes), por que então não faria isso com os próprios filhos? Acho que quem não consegue ter senso de humor está passando por problemas sérios, e mais ainda se é psicólogo ou psicanalista. Não há psicanálise se você se levar tão a sério. Winnicott dizia que a psicoterapia era o tipo de atividade em que o psicoterapeuta e o paciente brincavam juntos e seria o papel do psicoterapeuta trazer o paciente do lugar onde ele não consegue brincar para um que ele consiga. Além do mais, como artista eu tenho total liberdade para sacanear as teorias todas sem compromisso profissional já que não sou psicanalista ou psicólogo. Claro, procuro fazer isso com muito respeito, criando piadas que tanto os profissionais como os leigos possam entender.
5) Sei que já existem produtos das tirinhas, podemos esperar o livro?
Custei a fazer produtos, mas as pessoas pediam muito e acabei cedendo. É que no fundo acho cedo pra isso, foram publicadas menos de 40 tirinhas até o dia dessa entrevista, então é tudo muito recente. Algumas editoras estão flertando comigo, mas não assinei nada com nenhuma ainda justamente por achar que há pouco material produzido para uma publicação impressa. Mas sim, vai acontecer e provavelmente ano que vem, pelo andar da carruagem.
6) Agora, um espaço para o self-jabá. Divulgue o seu trabalho e onde vendem os produtos:
O meu trabalho como ilustrador e roteirista pode ser visto no meu site: www.pachaurbano.com
As tirinhas de As TRAUMÁTICAS Aventuras do Filho do Freud podem ser lidas em quatro idiomas aqui: filhodofreud.tumblr.com
A fanpage no Facebook, onde publico também alguns conte·dos relacionados ao processo de produção das tirinhas, parcerias, promoçõees e tal, é esta aqui: www.facebook.com/FilhoDoFreud
E na lojinha virtual dá pra comprar canecas, buttons e ecobags: www.zazzle.com.br/filhodofreud
Obrigado pela oportunidade de divulgar as tirinhas aqui no seu blog. =)
Imagens: todas as tirinhas são reproduções do tumblr Filho do Freud, de Pacha Urbano.