Que diabos é esse novo normal?

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Nos últimos dias, minha timeline foi inundada por pessoas se perguntando o que a revista Vogue queria dizer com o “novo normal”? O “novo normal” da publicação de moda traz Gisele Bundchen na capa, com cara lavada(?), foto preto e branco e fundo claro. O que não espantou foi a foto, algo “normal” para o periódico fashionista, mas sim a legenda.

Esse posicionamento da Vogue Brasil, me lembrou muito de uma cena do filme “O Diabo Veste Prada“:

Eu destaco o trecho final, em que Miranda Priestly, editora da revista Runway, fala: “No entanto, azul representa milhões de dólares e incontáveis trabalhos. E é meio cômico como você pensa que fez uma escolha, que a exime da industria da moda, quando na verdade está usando um suéter escolhido para você, pelas pessoas dessa sala, de um monte de coisa” – (no original seria “uma pilha de coisas”).

Essa cena, pra mim, resume bem como era o pensamento dos pessoas nas revistas de moda, no início dos anos 2000. Acredito que a Vogue Brasil ficou presa nessa ideia, de que são eles quem ditam moda (literalmente), que direcionam “o que se deve vestir” e quais comportamentos seguir. Sabemos que muitas publicações atuais vão na contramão dessas ideias e tendem a pensar mais no zeitgeist (espírito do tempo) e traduzir o que pesquisam e encontram na sociedade para os seus editoriais.

Exemplo muito claro disso são outras Vogues ao redor do mundo.

Por exemplo, a edição de abril da Vogue italiana trouxe uma capa totalmente branca – lembrando que a Itália foi um dos países mais atingidos pela pandemia até agora.

https://www.instagram.com/p/B-r-8mxqzXk/

Algumas pessoas citaram que a Vogue brasileira pode ter feito o editorial antes de tudo acontecer e não queriam perder o investimento da produção. Porém acredito que deveriam ser mais honestos, do que tentar emplacar um “novo normal” que não se aplica ao conteúdo produzido, e comprar a bronca de publicar uma capa que não condiz com o momento.

Já a Vogue americana manteve seus planos de publicação, mas com um disclaimer: “a edição de maio com Gal Gadot na capa foi produzida e escrita antes do covid-19 começar a se estabelecer nos EUA. Ela (a revista) foi impressa enquanto mudanças profundas na vida cotidiana estavam sendo vistas em todo país”. A Vogue América aposta em não perder o que foi planejado, mas avisa que tinha sido pensado antes.

Algumas outras pessoas criticaram fortemente o posicionamento da Vogue, num momento tão ímpar da nossa história.