Jessica Jones (interpretada por Krysten Ritter), o último lançamento original da Netflix com a Marvel, tem dado o que falar na internet por conta de seu feminismo. A série conta a história da (anti-)heroína que dá nome à história, mas o que chama mais atenção no programa é seu viés feminista. Em um mundo de super-heróis masculinos e versões femininas hipersexualizadas, a personagem vai na contramão. Logo no primeiro episódio, o show passa no teste Bechdel, que desde que eu conheci, passei a aplicá-lo em qualquer tipo de obra que me deparo, principalmente em conteúdos audiovisuais. Para quem ainda não conhece, o teste é baseado em uma ideia criada pela quadrinista Alison Bechdel (se não sabe quem é, corre pra ler Fun Home) e consiste em:
1 – Deve ter pelo menos duas personagens mulheres, com nomes (Jessica, Trish, Jeri);
2 – Elas conversam entre si;
3 – Sobre alguma coisa que não seja um homem.
Parece bem simples, mas não é!
Pensando nisso, fiquei impressionada nas cenas em que as várias personagens mulheres conversam entre si e falam de várias coisas, como vida, problemas, trabalho, outras mulheres (e até homens). Pronto, passou pelo teste, mesmo que na metade da temporada, Jessica seja atormentada por um homem e só pense nisso, mas logo esse tormento é explicado melhor, quando nos deparamos com relacionamento abusivo em que ela estava.
O programa é mais uma obra original da Netflix, em parceria com a Marvel – que já desenvolveu Demolidor -, e agora traz essa heroína(?) do mesmo universo do demônio de Hell’s Kitchen, mas também faz crossover com Homem-Aranha e os Vingadores. Na série, ela deixa a tentativa de ser super-heroína pra trás e se aventura como investigadora particular (mas sempre fugindo de Kilgrave, o Homem-púrpura, que tem poder de controlar todos ao seu redor e fazer o que bem entender – leia-se, obrigar alguém até se matar).
Ao desenrolar dos capítulos, a personagem tem seu passado revelado, sabemos um pouco mais sobre sua vida antes dos poderes e também como ela conhece Trish. Mas o que mais chama a atenção é como Kilgrave é obcecado por Jessica, a ponto de matar e manipular todos a seu redor. Porém, a série não é só feminista na trama, como também na sua produção. O programa é criado por uma mulher, Melissa Rosenberg, tem várias produtoras Jenna Reback, Dana Baratta, Jamie King e a própria criadora. Isso sem contar as diretoras de alguns episódios tais S.J. Clarkson, Uta Briesewitz, Rosemary Rodriguez. Quem estava cansada de heróis com capas e collants cafonas, Jessica Jones é um sopro de ar fresco no universo quase exclusivo dos superpoderes masculinos.
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